Simone de Oliveira

O Poema Ensina a Cair - A podcast by Raquel Marinho - Fridays

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Para falarmos da nossa convidada de hoje podemos começar por usar as suas palavras: "Eu chamo-me Simone e canto cantigas… os prémios, as condecorações, fico profundamente grata mas continuo a chamar-me Simone e a cantar cantigas”. De facto, basta-nos o nome próprio Simone para  sabermos que estamos a falar de Simone de Oliveira. Este reconhecimento imediato deve-se a um percurso profissional de 65 anos, celebrados recentemente num último espectáculo no coliseu de Lisboa, onde cabem as cantigas, sim, mais de quatrocentas, mas também o teatro, a televisão, a rádio e o cinema. Simone de Oliveira nasceu a 11 de Fevereiro de 1938 em Lisboa e, por vontade da mãe, ter-se-ia chamado Maria de Lurdes porque este dia assinala o dia da Nossa Senhora de Lurdes. As cantigas, como gosta de lhes chamar, apareceram na sua vida como uma espécie de ponto de fuga para um problema pessoal que a afundou psicologicamente: um casamento de onde fugiu porque o marido lhe batia. Disse numa entrevista que "cantar foi a forma de ultrapassar essa fase", e que gostaria que não lhe tivesse acontecido aquilo tudo, mas que hoje recorda esses tempos como se tivesse sido outra pessoa que os viveu. Ainda bem que começou a cantar, não apenas porque saiu do lugar triste onde se encontrava, mas também porque se tornou uma das nossas grandes intérpretes, uma mulher para quem tantos poetas escreveram canções que ficarão na história da música portuguesa, como a Desfolhada, de José Carlos Ary dos Santos, com que venceu o Festival RTP da Canção em 1969, e o verso polémico “quem faz um filho fá-lo por gosto” que abanou o país em plena ditadura. Lembra-se bem desses tempos do Estado Novo e do que era ser mulher nesse contexto, tendo atitudes e posturas comummente atribuídas apenas aos homens. Também se lembra da segunda guerra mundial e das senhas de racionamento de comida. Tem ascendência belga, espanhola e são tomense, e diz que tem a impressão de haver alguma negritude no seu sangue e alma. Nunca pediu um poema aos poetas, mas o que é facto é que lhos deram. David Mourão Ferreira e Eugénio de Andrade, são apenas dois exemplos. Já vamos saber se estão entre os escolhidos para a conversa de hoje.